terça-feira, 25 de outubro de 2011

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Lição 5 – Fé e Antigo Testamento

Pr. Matheus Cardoso
Editor-assistente dos livros do Espírito de Profecia
na Casa Publicadora Brasileira


Paulo ensinava que o meio para sermos salvos é apenas a fé em Cristo, e não nossa obediência à lei. A obediência é o resultado da salvação já obtida. Em poucas palavras, esse era o evangelho proclamado por Paulo. Em Gálatas 1 e 2, o apóstolo argumenta que essa compreensão lhe foi revelada diretamente por Cristo (Gl 1:11-24) e tinha a completa aprovação dos líderes da igreja (2:1-10). Em Gálatas 3 e 4, Paulo apresenta uma defesa bíblica e teológica do verdadeiro evangelho.

Resumo da semana: Paulo argumenta que os próprios gálatas, bem como Abraão, haviam alcançado a justificação pela fé somente. O Antigo Testamento como um todo apresenta essa verdade. Aqueles que tentam ser salvos por meio de uma combinação de fé e obras recebem apenas a condenação da lei. A razão disso é que a lei exige perfeita obediência e ninguém é capaz de oferecer isso. Como todos são transgressores da lei, todos merecem o salário do pecado: a morte eterna. Apenas a morte de Cristo nos livra da condenação que a lei impõe aos transgressores e nos capacita a obedecê-la.

A experiência dos gálatas (Gl 3:1-5)
O primeiro argumento apresentado por Paulo vem da realidade prática da igreja. O apóstolo recorre a verdades que os gálatas conheciam por experiência própria. Ele havia pregado o evangelho de maneira tão viva que eles haviam sido capazes de “enxergar” a cruz de Cristo (cf. Gl 3:1).

Paulo, então, faz uma série de perguntas retóricas (v. 2-5). A conclusão dos gálatas seria inevitável: eles já haviam recebido a justificação, e isso havia ocorrido somente pela fé. Como prova dessa justificação, Deus lhes havia concedido o Espírito Santo (v. 2, 3) e realizado milagres entre eles (v. 5).

A experiência de Abraão (Gl 3:6-9)
Em Gálatas 3:6 – 4:31, Paulo apresenta argumentos retirados do Antigo Testamento para mostrar que a salvação é apenas pela fé. Isso pode ser surpreendente para muitos cristãos. Se o Antigo Testamento tivesse sido abolido, como muitos ensinam, por que Paulo o usaria como base de sua argumentação? E se, durante a época do Antigo Testamento, as pessoas houvessem sido salvas por meio da obediência à lei, como Paulo poderia citar textos dessa parte da Bíblia que ensinam a salvação pela fé somente?

Paulo cita um texto do Antigo Testamento (Gn 15:6) que afirma que Abraão foi justificado apenas pela fé (Gl 3:6). Esse personagem bíblico era considerado pai do povo de Israel e modelo de verdadeiro judeu. O raciocínio do apóstolo é brilhante: se Abraão foi justificado somente pela fé, então nada diferente poderia ser exigido daqueles que desejam alcançar a mesma bênção (v. 7, 9).

Em seguida, Paulo faz uma declaração ainda mais surpreendente: “Tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão” (v. 8, ARA). O evangelho não começou a ser proclamado no tempo de Jesus e dos apóstolos. Não foi uma inovação de Paulo. Ele já fora pregado a Abraão! A razão disso é que existe apenas um evangelho (Gl 1:6, 7), o mesmo que foi pregado aos israelitas no tempo de Moisés (Hb 4:2) e, antes dele, a Adão e Eva (Gn 3:15) – esse é o “evangelho eterno” (Ap 14:6).

Libertados da condenação da lei (Gl 3:10-14)
Chegamos agora a um texto fundamental da carta: Gálatas 3:10-14. “Praticamente todos os estudiosos concordam que esse trecho é um dos mais importantes de Gálatas.”1 Como veremos, ele fornece a chave para entender as declarações aparentemente negativas de Paulo sobre a lei.

O versículo 10 afirma: “Já os que se apoiam na prática da lei estão debaixo de maldição, pois está escrito: ‘Maldito todo aquele que não persiste em praticar todas as coisas escritas no livro da lei.’” Ao defenderem os Dez Mandamentos, algumas pessoas imaginam que, nesse texto, Paulo estava criticando os cristãos que guardavam as leis cerimoniais. Nesse caso, o sentido do versículo seria este: “Maldito é todo aquele que guarda as leis cerimoniais, porque não percebem que Cristo já aboliu essas leis.”

Mas o texto não condena quem guarda a lei. Ele ensina exatamente o oposto: “Maldito todo aquele que não persiste em praticar todas as coisas escritas no livro da lei.” Portanto, maldito é quem não guarda a lei! Note que, desde o início de sua argumentação, Paulo exalta a obediência à lei, e não o desprezo a ela.

A seguir, estudaremos alguns pontos importantes de Gálatas 3:10-14.

1. Maldição para quem guarda a lei?
Então, se Paulo condena quem não guarda a lei, como entender a primeira parte do versículo? “Já os que se apoiam na prática da lei estão debaixo de maldição, pois está escrito: ‘Maldito todo aquele que não persiste em praticar todas as coisas escritas no livro da lei’” (Gl 3:10). À primeira vista, Paulo critica quem guarda a lei e, para provar sua ideia, cita uma passagem que critica quem não guarda a lei! Estaria Paulo se contradizendo?
O raciocínio do apóstolo é o seguinte:2

– Aqueles que não guardam todos os mandamentos da lei, perfeitamente e o tempo todo, estão debaixo da condenação da lei (“Maldito todo aquele que não persiste em praticar todas as coisas escritas no livro da lei”).
– Ninguém (exceto Jesus) jamais guardou toda a lei perfeitamente e em todo o tempo (Rm 1–3).
– Portanto, visto que não obedecem a lei perfeitamente e o tempo todo, aqueles que tentam guardá-la para ser justificados estão debaixo da condenação da lei, tanto quanto os demais transgressores (“os que se apoiam na prática da lei estão debaixo de maldição”).

Os oponentes de Paulo acreditavam que uma pessoa pode ser salva por meio de sua obediência à lei de Deus. Em outras palavras, eles se apoiavam “na prática da lei”. Diante disso, o apóstolo lembra que a lei exige obediência perfeita, mas seus próprios oponentes sabiam que ninguém obedece perfeitamente à lei (Gl 5:3; 6:13). Portanto, a justificação não pode ser por meio da obediência.

Note o jogo de palavras usado por Paulo. O legalismo é uma grande ironia: aqueles que tentam guardar a lei para receber a bênção prometida a Abraão (a salvação), recebem, em vez disso, a maldição da lei. Os únicos que recebem a bênção da salvação são aqueles que têm fé em Cristo (Gl 3:13).

2. O que é a “maldição da lei”?
Em que exatamente consiste essa maldição? Não existe nenhum problema na lei, mas no ser humano (Rm 7:7, 13; 8:3). Todas as pessoas são pecadoras (Rm 3:23) e merecem o salário do pecado: a morte eterna (Rm 6:23; Ef 2:3). Tudo o que a lei pode oferecer aos transgressores é a condenação pela desobediência. Essa é a “maldição da lei” (Gl 3:13).

A única forma de se livrar dessa condenação compartilhada por todos os seres humanos é aceitar a Cristo pela fé. Em Sua morte, Ele sofreu a condenação que pertencia a nós (Gl 3:13).

O teólogo adventista Ángel Manuel Rodríguez resume Gálatas 3:10-14: “Sendo que ninguém pode oferecer obediência perfeita à lei de Deus, os seres humanos estão debaixo de sua maldição, que é a condenação eterna [Gl 3:10]. No entanto, por meio de Cristo, a lei não pode exercer sua função condenatória sobre aqueles que creem (Gl 3:13). Eles não mais estão debaixo da lei, mas debaixo da graça [Rm 6:14].”3

A chave para se entender Gálatas
Gálatas 3:10 e 13 fornece a grande chave para se compreender as declarações aparentemente negativas de Paulo sobre a lei. Segundo esse texto, “os que se apoiam na prática da lei estão debaixo de maldição” (v. 10), isto é, a “maldição da lei” (v. 13). Essa é a primeira das seis expressões em Gálatas que começam com as palavras “debaixo de”. Confira a lista completa:4

– “debaixo de maldição” (3:10);
– “debaixo do pecado” (3:22);
– debaixo da “lei” (3:23; 4:4, 5, 21; 5:18);
– debaixo de “tutor” (3:25);
– debaixo de “guardiães e administradores” (4:2);
– debaixo dos “princípios elementares do mundo” (4:3).

Nesses textos, Paulo argumenta que, a partir da morte de Cristo, não mais estamos “debaixo de maldição”, debaixo da “lei”, debaixo de “tutor”, etc. Todas essas expressões são paralelas; apresentam a mesma ideia.

Para muitos, estar “debaixo da lei” significa submeter-se à autoridade da lei e obedecê-la. Portanto, eles concluem que, depois da cruz, não mais precisamos guardar a lei. Mas quando estudamos a lista acima, percebemos o que realmente significa estar “debaixo da lei”: É o mesmo que estar debaixo da “maldição da lei” e “debaixo do pecado”. Em outras palavras, quem está “debaixo da lei” é quem desobedece à lei, e não quem a obedece!

Isso se torna ainda mais claro quando comparamos dois textos importantes que apresentam a mesma ideia:

– “Deus enviou Seu Filho, [...] nascido debaixo da lei, a fim de redimir os que estavam sob a lei” (Gl 4:4, 5).
– “Cristo nos redimiu da maldição da lei quando Se tornou maldição em nosso lugar” (Gl 3:13).

Cristo ter nascido “debaixo da lei” é o mesmo que ter Se tornado “maldição em nosso lugar”. E Cristo “redimir os que estavam sob a lei” é o mesmo que nos redimir “da maldição da lei”.

Ellen G. White confirma o que significa estar “debaixo da lei”: “Há plena certeza de esperança em crer em cada palavra de Cristo, em crer nEle, sendo unidos a Ele por fé viva. Quando essa é a experiência do ser humano, ele não mais está debaixo da lei, porque a lei não mais condena seu procedimento.”5

Essa é a chave para se entender os textos difíceis de Paulo a respeito da lei. Sempre que o apóstolo dizia que não mais estamos “debaixo da lei”, ele estava ensinando que Cristo nos livrou da condenação da lei, que é a morte eterna. É por isso que, em Romanos 6:14, Paulo declara que não estar mais “debaixo da lei” significa estar “debaixo da graça”. Ou seja, estar debaixo da graça (ou estar salvo) significa não mais estar debaixo da condenação da lei.

Mas além desses textos negativos sobre a lei, Paulo escreveu muitos textos positivos sobre ela. Os textos negativos falam sobre a condenação da lei, da qual Jesus nos livrou por Sua morte. Já os textos positivos falam sobre a obediência à lei na vida do cristão.

Note que, em Romanos 6:15, Paulo faz questão de esclarecer que aqueles que estão salvos (isto é, que estão debaixo da graça e não mais debaixo da lei) não estão de forma alguma livres para pecar. Ou seja, a salvação não nos isenta da obediência à lei, visto que pecado é precisamente a transgressão da lei (1Jo 3:4). Estar debaixo da graça significa, sim, tornar-se servo de Cristo para a obediência e para a justiça (Rm 6:16-18).

Em outras palavras, o resultado do sacrifício de Cristo é que podemos, e devemos, viver em harmonia com a lei (Rm 8:3, 4). Sua morte nos livrou da condenação da lei (Gl 3:13) e Deus enviou o Espírito Santo para que pudéssemos obedecê-la (v. 14; 5:18; Hb 10:15, 16). Por meio da graça de Deus, o cristão é habilitado a cumprir “toda a lei” (Gl 5:14; cf. Rm 13:8-10), o que inclui o mandamento do sábado.

1. Thomas R. Schreiner, Galatians, Exegetical Commentary on the New Testament, v. 9 (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2010), p. 199.
2. Adaptado de Schreiner, Galatians, p. 204; Carl P. Cosaert, Galatians: A Fiery Response to a Struggling Church (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2011), p. 53.
3. Ángel Manuel Rodríguez, “The Adventist Understanding of the Law and the Sabbath”, em Lutherans and Adventists in Conversation: Report and Papers Presented 1994-1998 (Silver Spring, MD: General Conference of Seventh-day Adventists; Genebra, Suíça: The Lutheran World Federation, 2000), p. 111.
4. Em algumas traduções bíblicas, as palavras “debaixo de” não aparecem em todos os versículos. Porém, em grego, todos os textos contêm a palavra hypó, que significa “debaixo de”.
5. Ellen G. White, Nos Lugares Celestiais, p. 144 (ênfase acrescentada)

LIÇAO ADULTO


Lição 5
22 a 29 de outubro




Fé e Antigo Testamento


Casa Publicadora Brasileira – Lição 542011




Sábado à tarde
Ano Bíblico: Lc 6–8


VERSO PARA MEMORIZAR: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-Se Ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro)” (Gl 3:13).

Leituras da semana: Gl 3:1-14; Rm 1:2; 4:3; Gn 15:6; 12:1-3; Lv 17:11; 2Co 5:21

Um garoto havia feito um pequeno barco, todo pintado e preparado com muita beleza. Certa vez, alguém roubou seu barco, e ele estava angustiado. Um dia, ao passar por uma casa de penhores, ele viu seu barco. Com alegria, correu ao dono da casa, e disse: ‘Esse é o meu pequeno barco!’ ‘Não’, disse o homem, ‘ele é meu, porque eu o comprei’. ‘Sim’, disse o garoto, ‘mas ele é meu, porque eu o fiz.’ ‘Bem’, disse o penhorista, ‘se você me pagar dois dólares, pode levá-lo’. Era muito dinheiro para um menino que não tinha um centavo. Em todo caso, ele resolveu comprá-lo. Assim, ele cortou grama, fez todo tipo de trabalhos pequenos, e logo obteve o dinheiro.
“Ele correu até a loja e disse: ‘Eu quero o meu barco.’ Ele entregou o dinheiro e recebeu seu barco. Ele pegou o barco em seus braços, o apertou, o beijou e disse: ‘Amo você, querido barquinho. Você é meu! Você é meu duas vezes. Eu fiz você, e agora eu comprei você.’

“Assim acontece conosco. Em certo sentido, somos duas vezes do Senhor. Ele nos criou, e entramos na casa de penhores do diabo. Então, Jesus veio ao mundo e nos comprou a um terrível custo. Não foi prata nem ouro, mas Seu precioso sangue. Somos do Senhor pela criação e pela redenção” (William Moses Tidwell, Pointed Illustrations [Ilustrações Selecionadas], Kansas City, Missouri: Beacon Hill Press, 1951, p. 97)




Domingo
Ano Bíblico: Lc 9–11


Os insensatos gálatas


1. Leia Gálatas 3:1-5. Resuma abaixo o que Paulo está dizendo a eles. Em que sentido podemos estar em perigo de cair na mesma armadilha espiritual, de começar bem e depois cair no legalismo?

Diversas traduções modernas têm tentado captar o sentido das palavras de Paulo no verso 1, sobre os gálatas “insensatos”. A palavra que Paulo usa, em grego, é ainda mais forte do que essa. A palavra é anoetoi, que vem da palavra para mente (nous). Literalmente, significa “estúpido”. Os gálatas não estavam pensando. Paulo não parou por aí: ele disse que, visto que eles estavam agindo de maneira tão insensata, ele queria saber se algum mágico havia lançado um feitiço sobre eles. “Quem os enfeitiçou?” Sua escolha de palavras aqui pode até sugerir que a principal fonte por trás da condição deles era o diabo (2Co 4:4).

O que deixou Paulo tão perplexo sobre a apostasia dos gálatas com relação ao evangelho foi que eles sabiam que a salvação é enraizada na cruz de Cristo. Eles não poderiam ter dúvidas sobre isso. A palavra traduzida como “representado” ou “exposto” (RC, RA) em Gálatas 3:1 significa literalmente “anunciado em cartaz”, ou “retratado”. Era usada para descrever todas as proclamações públicas. Paulo estava dizendo que a cruz era tão importante em sua pregação que os gálatas tinham, com efeito, visto o Cristo crucificado com os olhos da mente (1Co 1:23; 2:2). Em certo sentido, ele estava dizendo que, por suas ações, eles estavam se afastando da cruz.

Então, Paulo comparou a experiência dos gálatas com a forma pela qual eles, no começo, haviam experimentado a fé em Cristo. Para isso, ele fez algumas perguntas retóricas. Como eles haviam recebido o Espírito, ou seja, como eles haviam se tornado cristãos, no começo? E de uma perspectiva ligeiramente diferente, por que Deus havia dado o Espírito? Foi porque eles haviam feito algo para merecê-­Lo?

Certamente, não! Em vez disso, foi porque eles haviam acreditado nas boas-­novas do que Cristo já havia feito por eles. Tendo começado tão bem, o que faria com que pensassem que então eles tinham que passar a confiar em seu próprio comportamento?

Quantas vezes você pensou: “Estou me saindo muito bem”? “Sou um cristão bastante sólido, não faço isso, não faço aquilo...”? E então, mesmo de maneira sutil, você está pensando que é de algum modo suficientemente bom para ser salvo? O que há de errado com essa situação?




Segunda
Ano Bíblico: Lc 12–14


Fundamentado nas Escrituras


Até este ponto do nosso estudo, Paulo defende seu evangelho da justificação pela fé, apelando ao acordo alcançado com os apóstolos em Jerusalém (Gl 2:1-10) e à experiência pessoal dos próprios gálatas (Gl 3:1-5). Começando em Gálatas 3:6, Paulo então se voltou para o testemunho das Escrituras para a confirmação final e principal do seu evangelho. Na verdade, Gálatas 3:6 a 4:31 é composto por argumentos progressivos enraizados nas Escrituras.

2. O que Paulo quis dizer quando escreveu sobre as “Escrituras”, em Gálatas 3:6-8? Rm 1:2; 4:3; 9:17

É importante lembrar que, na época em que Paulo escreveu sua carta aos gálatas não existia o “Novo Testamento”. Paulo foi o primeiro escritor do Novo Testamento. O Evangelho de Marcos provavelmente seja o mais antigo dos quatro evangelhos, mas ele talvez não tivesse sido escrito até por volta do tempo da morte de Paulo (65 d.C), ou seja, cerca de quinze anos depois da carta de Paulo aos gálatas. Assim, quando Paulo se referia às Escrituras, ele tinha em mente apenas o Antigo Testamento.

O Antigo Testamento desempenhou um papel significativo nos ensinamentos de Paulo. Ele não o via como palavras mortas, mas como a autorizada e viva Palavra de Deus. Em 2 Timóteo 3:16 ele escreveu: “Toda a Escritura é inspirada por Deus”. A palavra traduzida por “inspiração” é theopneustos. A primeira parte da palavra (theo) significa “Deus”, enquanto a segunda parte significa “inspirar”.

A Escritura é “inspirada por Deus”. Paulo usou as Escrituras para demonstrar que Jesus é o Messias prometido (Rm 1:2), para dar instrução sobre a vida cristã (Rm 13:8-10), e para provar a validade de seus ensinamentos (Gl 3:8, 9).

É difícil determinar exatamente quantas vezes Paulo cita o Antigo Testamento, mas citações são encontradas em todas as suas cartas, exceto nas menores, Tito e Filemon.

3. Leia atentamente Gálatas 3:6-14. Identifique os trechos do Antigo Testamento citados nesses versos. O que isso nos diz sobre a autoridade que o Antigo Testamento possui?

Você já chegou a pensar que uma parte da Bíblia é mais “inspirada” do que as outras? Diante da afirmação de Paulo em 2 Timóteo 3:16, qual é o perigo de seguir por esse caminho?




Terça
Ano Bíblico: Lc 15–17


Considerado justo


4. Por que Paulo apelou primeiramente a Abraão, ao examinar as Escrituras em busca de confirmação para sua mensagem evangélica? (Gl 3:6).

Abraão é uma figura central no judaísmo. Não somente é o pai do povo judeu, mas os judeus na época de Paulo também o consideravam o modelo de como deveria ser um verdadeiro judeu. Muitos não só acreditavam que sua característica essencial era a obediência, mas que Deus declarou Abraão justo por causa dessa obediência. Afinal, Abraão deixou sua terra natal e sua família, aceitou a circuncisão, e estava disposto até a sacrificar seu filho, conforme a ordem de Deus. Isso é obediência! Insistindo na questão da circuncisão, os oponentes de Paulo certamente utilizaram esses mesmos argumentos.

Paulo, entretanto, respondeu com o mesmo argumento, apelando para Abraão nove vezes em Gálatas, mostrando que o patriarca havia sido um exemplo de fé, e não da observância da lei.

5. O que significa fé creditada (imputada) para justiça? Gn 15:6; Rm 4:3-6, 8-11, 22-24

Ao passo que justificação é uma metáfora tirada do mundo jurídico, a palavra contado ou considerado é uma metáfora tirada do mundo dos negócios. Pode significar “creditar” ou “colocar algo na conta de alguém”. Não é utilizada com referência a Abraão apenas em Gálatas 3:6, mas ocorre outras onze vezes em conexão com o patriarca. Algumas versões da Bíblia a traduzem como contado, considerado, ou imputado.

De acordo com a metáfora de Paulo, o que é colocado em nossa conta é a justiça. A questão é, contudo, em que base Deus nos considera justos? Certamente não pode ser na base da obediência, apesar do que os adversários de Paulo alegavam. Não importa o que eles disseram sobre a obediência de Abraão, as Escrituras dizem que Deus o justificou por causa de sua fé.

A Bíblia é clara: a obediência de Abraão não foi o fundamento de sua justificação; ela foi, em vez disso, o resultado. Ele não fez as coisas que fez a fim de ser justificado; fez porque já havia sido justificado. Justificação conduz à obediência, e não o contrário.

Você não é justificado pelas coisas que faz, mas somente pelo que Cristo fez em seu favor. O que esse fato significa para você? Por que isso é uma notícia tão boa? Como tornar essa verdade parte da sua vida, ou seja, acreditar que se aplica a você, pessoalmente, não importando suas lutas do passado e do presente?


 

Quarta
Ano Bíblico: Lc 18–20


O evangelho no Antigo Testamento


Gálatas 3:8 diz: “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos” (Gl 3:8). Paulo escreveu que não somente o evangelho foi pregado a Abraão, mas que foi pregado por Deus; assim, esse foi o verdadeiro evangelho. Mas, quando Deus pregou o evangelho a Abraão? A citação de Paulo de
Gênesis 12:3 indica que ele tinha em mente a aliança que Deus fez com Abraão quando o chamou, em Gênesis 12:1-3.

6. Leia Gênesis 12:1-3. Qual era a natureza da aliança que Deus fez com Abraão?

A base da aliança de Deus com Abraão estava centralizada nas promessas de Deus a ele. Deus fez quatro promessas a Abraão. As promessas de Deus a Abraão são incríveis porque são completamente unilaterais. Deus fez todas as promessas. Abraão não prometeu nada. A maioria das pessoas tenta se relacionar com Deus de modo contrário. Nós geralmente prometemos que O serviremos, somente se Ele, em troca, fizer alguma coisa por nós. Mas isso é legalismo. Deus não pediu que Abraão prometesse nada, mas que aceitasse Suas promessas pela fé. Claro, isso não foi uma decisão fácil, porque Abraão teve que aprender a confiar totalmente em Deus e não em si mesmo (Gn 22). O chamado de Abraão ilustra, portanto, a essência do evangelho, que é salvação pela fé.

Alguns erroneamente concluem que a Bíblia ensina duas formas de salvação. Eles afirmam que, nos tempos do Antigo Testamento, a salvação era fundamentada na guarda dos mandamentos; então, como isso não deu muito certo, Deus aboliu a lei e tornou possível a salvação pela fé. Nada poderia estar mais longe da verdade! Como Paulo escreveu em Gálatas 1:7, há apenas um evangelho.

7. Que outros exemplos você pode encontrar no Antigo Testamento sobre salvação unicamente pela fé? Lv 17:11; Sl 32:1-5; 2Sm 12:1-13; Zc 3:1-4

Muitas vezes ouvimos a expressão “graça barata”. Contudo, essa ideia é incorreta. A graça não é barata, é gratuita (pelo menos para nós). Mas nós a arruinamos, quando pensamos que, por meio de nossas obras, podemos adicionar algo a ela, ou quando pensamos que podemos usá-la como desculpa para o pecado. Em sua própria experiência, para qual desses dois caminhos você está mais inclinado a se dirigir? Como você pode mudar de direção?




Quinta
Ano Bíblico: Lc 21, 22


Resgatados da maldição (Gl 3:9-14)


Os oponentes de Paulo ficaram, sem dúvida, espantados por suas ousadas palavras em Gálatas 3:10. Eles certamente não pensavam que se achavam sob maldição. Se houvesse alguma coisa para eles, esperavam que fosse uma bênção por sua obediência. No entanto, Paulo foi claro: “Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las” (Gl 3:10).

Paulo contrastou duas alternativas completamente diferentes: salvação pela fé e salvação pelas obras. As bênçãos e maldições da aliança descritas em Deuteronômio 27 e 28 foram diretas. Aqueles que obedecessem seriam abençoados, e os que desobedecessem seriam amaldiçoados. Isso significa que, se uma pessoa quisesse confiar na obediência à lei para ser aceito por Deus, então toda a lei devia ser guardada. Não temos a liberdade de escolher aquilo que queremos seguir, nem deveríamos supor que Deus esteja disposto a deixar passar alguns erros aqui e ali. É tudo ou nada.

Essa é, naturalmente, a má notícia, não apenas para os gentios, mas também para os adversários legalistas de Paulo, porque “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:23, RC). Não importa o ardor com que tentemos ser bons, a lei só pode nos condenar como transgressores.

8. Como Cristo nos libertou da maldição da lei? Gl 3:13; 2Co 5:21

Paulo introduziu outra metáfora para explicar o que Deus fez por nós em Cristo. A palavra redimir significa “comprar de volta”. Ela representa o preço do resgate pago para libertar reféns ou o preço pago para libertar um escravo. Porque o salário do pecado é a morte, a maldição por falhar em guardar a lei é a constante sentença de morte. O resgate pago por nossa salvação não foi insignificante: custou a Deus a vida de Seu próprio Filho (Jo 3:16). Jesus nos resgatou da maldição, tornando-Se nosso portador de pecados (1Co 6:20; 7:23). Ele voluntariamente tomou sobre Si a nossa maldição e sofreu em nosso favor toda a penalidade do pecado (2Co 5:21).

Paulo citou Deuteronômio 21:23 como prova bíblica. Segundo o costume judaico, uma pessoa estava sob a maldição de Deus se, após a execução, o corpo fosse pendurado num madeiro. A morte de Jesus na cruz foi vista como um exemplo dessa maldição (At 5:30; 1Pe 2:24).

Não é de admirar, então, que a cruz tenha sido uma pedra de tropeço para alguns judeus que não podiam conceber a ideia de que o Messias fosse amaldiçoado por Deus. Mas esse foi exatamente o plano de Deus. Sim, o Messias sofreu a maldição; mas ela não era dEle, era nossa!




Sexta
Ano Bíblico: Lc 23, 24


Estudo adicional


Sobre Cristo como nosso substituto e penhor, foi posta a iniquidade de nós todos. Foi contado como transgressor, a fim de nos redimir da condenação da lei. A culpa de todo descendente de Adão pesava sobre Seu coração. A ira de Deus contra o pecado, a terrível manifestação de Seu desagrado por causa da iniquidade, encheram de consternação a vida de Seu Filho. Em toda a Sua vida, Cristo havia anunciado ao mundo caído as boas-novas da misericórdia do Pai e de Seu amor perdoador. A salvação para o maior pecador fora Seu tema. Mas agora, com o terrível peso de culpa que carregava, não pôde ver a face reconciliadora do Pai. O afastamento do semblante divino, do Salvador, nessa hora de suprema angústia, penetrou Seu coração com uma dor que nunca poderá ser bem compreendida pelo homem. Tão grande era essa agonia, que Ele mal sentia a dor física.

“Satanás torturava com cruéis tentações o coração de Jesus. O Salvador não podia enxergar para além dos portais do sepulcro. A esperança não Lhe apresentava Sua saída da sepultura como vencedor, nem Lhe falava da aceitação do sacrifício por parte do Pai. Temia que o pecado fosse tão ofensivo a Deus, que Sua separação houvesse de ser eterna. Cristo sentiu a angústia que há de experimentar o pecador quando não mais a misericórdia interceder pela raça culpada. Foi o sentimento do pecado, trazendo a ira divina sobre Ele, como substituto do homem, que tão amargo tornou o cálice que sorveu, e quebrantou o coração do Filho de Deus” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 753).

Perguntas para reflexão
1. Mesmo hoje em nossa igreja, alguns ainda têm dificuldade em aceitar a salvação unicamente pela fé, e que a graça de Deus, por meio de Cristo, nos salva, à parte de nossas obras. O que está por trás dessa hesitação de alguns em aceitar essa verdade fundamental?
2. Paulo falou de maneira muito forte sobre o erro teológico da salvação pelas obras. O que isso nos diz sobre a importância da teologia correta? Por que devemos nos levantar vigorosamente, se necessário, quando o erro está sendo ensinado entre nós?

Resumo: Do início ao fim da vida cristã, a base da nossa salvação é a fé unicamente em Cristo. Foi por causa da fé que Abraão teve nas promessas de Deus que ele foi considerado justo, e esse mesmo dom de justiça está disponível hoje para todo aquele que partilhar da fé que Abraão teve. A única razão pela qual não somos condenados por nossos erros é que Jesus pagou o preço pelos nossos pecados, ao morrer em nosso lugar.

LIÇÃO ESCOLA SABATINA


Lição 5
22 a 28 de outubro




Fé do Antigo Testamento


Casa Publicadora Brasileira – Lição dos jovens 542011



“Cristo nos redimiu da maldição da Lei quando Se tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito: ‘Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro’” (Gl 3:13).
 
Prévia da semana: Através do sistema sacrificial, o Antigo Testamento ilustrava o terrível custo do pecado e a oferta de um substituto perfeito para tomar o lugar do pecador na morte.

Leitura adicional: Salmo 40:1-4; 121.




Domingo, 23 de outubro
cpb – Introdução

Fé é a vitória



Jamila era uma garota quieta. Ela se isolava do restante dos estudantes em nossa escola cristã porque a maioria deles a provocava. Certo dia, durante a hora do lanche, reuni coragem e sentei-me com ela. Logo nos tornamos amigas e ela se sentiu livre para me contar a seguinte história:

Alguns anos antes, enquanto Jamila frequentava outra escola cristã, ela havia dedicado a vida a Jesus Cristo. Quando a escola fechou para os feriados de dezembro, seus pais não cristãos a levaram para o templo do seu deus. Ela soube que eles haviam sido requisitados a sacrificar uma criança para apaziguar os falsos deuses a quem eles adoravam e, porque era filha única, ela deveria ser o sacrifício. Após terem sido executados certos rituais, penduraram Jamila de cabeça para baixo sobre uma grande fogueira. A princípio, ela entrou em pânico, mas então se lembrou de Jesus e clamou por Ele. Ao fazê-lo, recordou como Deus havia instruído Abraão para oferecer seu único filho como um sacrifício. Ela relembrou como Abraão obedeceu a Deus e como, no fim, Deus havia providenciado um cordeiro, que representava o Salvador, para ser sacrificado no lugar de Isaque. Jamila me disse: “Eu sabia que o que estavam fazendo comigo não era a vontade de Deus. Então orei e pedi: Jesus, por favor, providencia um ‘cordeiro’ para tomar meu lugar!”

Mesmo após três horas pendurada sobre o fogo, Jamila miraculosamente permanecia viva. Isso fez com que os membros do templo ficassem furiosos. Finalmente, quando não aguentaram mais, eles a tiraram dali e a jogaram na porta de um hospital onde foi encontrada por um médico. Lá ela ficou até que se recobrou completamente. O doutor que a encontrou a adotou e criou como um de seus próprios filhos. Então ele a levou para a escola que eu frequentava para que ela pudesse continuar sua educação.

Admirei a fé que Jamila tem em Deus. Ela crê que Ele gravou o nome dela na palma de Sua mão, que Ele a conhecia antes mesmo que ela tivesse nascido, e que Ele tem planos para dar a ela um futuro próspero (Is 49:16; Jr 1:5). Sua fé, como a de Abraão, ensina que a base para a nossa salvação é somente fé em Cristo. Foi pela fé que Abraão teve nas promessas de Deus que ele foi contado como justo.
Esse mesmo dom de justiça está disponível para todo aquele que compartilha da mesma fé que teve Abraão. A única razão pela qual não somos condenados pelos nossos erros é que Jesus pagou o preço pelos nossos pecados morrendo em nosso lugar. Que ao estudarmos este tópico durante esta semana, possamos acreditar que nossos nomes também estão escritos na palma da mão de nosso Salvador.


Mãos à Bíblia

1. Leia Gálatas 3:1-5. Resuma abaixo o que Paulo disse a eles. Em que sentido podemos estar em perigo de cair na mesma armadilha espiritual, de começar bem e depois cair no legalismo?


Judy MuthunguNairóbi, Quênia




Segunda, 24 de outubro
cpb – Exposição

Abraão: confidente de Deus



A natureza da fé (Gn 15:1-6; 12:1-3; 22:1-18). Somos, no fim das contas, medidos não pela nossa conduta em momentos de conforto, mas pelo nosso proceder durante os momentos de turbulência. Se, revelamos ou não, êxtase espiritual durante os tempos de turbulência é evidência inconclusiva de que somos cristãos. A santidade não é um êxtase, mas sim, completa submissão da nossa vontade a Deus. É viver de toda palavra que procede da Sua boca. A santidade é também confiar em Deus na escuridão tanto quanto na luz. É andar pela fé e não pela visão; e, finalmente, a santidade é depender dEle com confiança inquestionável e descansar em Seu amor.

Se não podemos permanecer em pé por alguma motivo, então definitivamente cairemos por qualquer coisa. A Bíblia claramente ensina que sem fé é impossível agradar a Deus e que o justo viverá pela fé.

Abraão, o pai da fé e amigo de Deus, era um homem de caráter nobre que diligentemente buscou o Senhor com uma confiança infantil. Ele sabia que sem fé era impossível agradar a Deus. Abraão nunca duvidou das instruções e promessas que Deus lhe deu, nem as questionou.

Vamos dar uma olhada mais de perto sobre o modo de ser de Abraão:

1. Ele era da terra de Ur. Enquanto lá viveu, “a cidade possuía uma cultura excepcionalmente alta. As casas eram bem construídas, e geralmente eram de dois andares. Os cômodos do piso térreo eram agrupados ao redor de um pátio central e um lance de escadas levava até ao segundo andar. A cidade tinha um sistema de esgoto eficiente, mais do que algumas cidades naquele país podem gabar-se ainda hoje. Nas escolas de Ur, a leitura, escrita, cálculo e geografia eram ensinados, como tornam evidente muitos exercícios escolares que foram recuperados arqueologicamente.”1

2. Abraão era próspero. A Bíblia o descreve como sendo rico em rebanhos, prata e ouro (Gn 13:2). A palavra traduzida por rico “literalmente significa ‘forte’ ou ‘pesado’, usado no sentido de estar ‘carregado’ com posses.”2

3. Abraão foi um grande professor. Sobre ele, Deus disse: “Pois Eu o escolhi, para que ordene aos seus filhos e aos seus descendentes que se conservem no caminho do Senhor” (Gn 18:19). “Abraão não só orou com e diante de sua família, mas intercedeu por ela como um sacerdote. [...] Como um profeta ele instruiu a família tanto na teoria como na prática da religião, com ênfase nas virtudes práticas. Ensinou sua família não somente a conhecer essas coisas, mas também, a praticá-las.”3 O que deu poder aos ensinamentos de Abraão foi a influência de sua própria vida.

4. A influência de Abraão se estendeu além de sua própria família e casa. Onde quer que ele armasse suas tendas, construía um altar a Deus para sacrifício e adoração. Quando Abraão se mudava, o altar permanecia como testemunho. Assim muitos cananeus itinerantes que adquiriram conhecimento de Deus através da vida de Abraão, demoravam-se diante do altar para oferecer um sacrifício a Jeová.4

5. Abraão foi um homem de grande fé. Quando Deus o instruiu para que oferecesse seu filho prometido como sacrifício, Abraão inquestionavelmente o fez. Esse deve ter sido um dos maiores testes que Deus pediu a qualquer humano.

Foi assim. Mas e agora? (Rm 4:13; Gl 3:1-14; Hb 11:6). Quando Cristo foi crucificado, Seus discípulos mais chegados não acreditaram que Ele ressuscitaria novamente. Apesar de Ele próprio ter afirmado claramente de que Ele ressuscitaria no terceiro dia, eles ficaram perplexos pelo que Ele quisera dizer. Essa falta de compreensão os deixou em absoluto desespero por ocasião da Sua morte. Sua fé foi incapaz de penetrar além da sombra que Satanás lançou sobre seu coração e mente. Tudo parecia sem esperança para eles. Se eles tão somente tivessem acreditado nas palavras do Salvador, de quanto sofrimento eles poderiam ter sido poupados! O mesmo poder que susteve Abraão, que deu a Calebe e a Josué fé e coragem, os teria capacitado a permanecer fiéis durante o tempo de sofrimento. Felizmente, no Pentecostes, eles receberam grande medida de fé e poder do Espírito Santo, que tornou efetivo o trabalho deles. Tal fé e poder tem sustentado os fiéis filhos de Deus em todas as épocas subsequentes e, na nossa, não pode ser diferente.

Hoje, a exemplo de Abraão, precisamos ter fé nas promessas de Deus. Precisamos estar preparados para fazer o que Ele nos pedir, seja o que for. Oremos pedindo forças para caminhar pela fé assim como pela visão, porque o que é visível é apenas temporal, mas o invisível é eterno.

1. The SDA Bible Commentary, v. 1, 2ª ed., p. 290.
2. Ibid., p. 300.
3. Ibid., p. 329.
4. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 128.


Pense nisto

1. De que maneiras, podemos melhorar nossa fé enquanto esperamos pela breve vinda de Cristo?
2. Por que nossa fé não deveria, em nenhuma circunstância, depender de tempo, estação ou lugar?


Festus M. NthengeNairóbi, Quênia




Terça, 25 de outubro
cpb – Testemunho

Fé – a chave que abre o futuro



“Aquela obediência expedita de Abraão é uma das provas mais notáveis de fé encontradas em toda a Bíblia. Para ele, a fé era ‘o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem’ (Hb 11:1). Confiando na promessa divina, sem a menor garantia exterior de seu cumprimento, abandonou o lar, os parentes e a terra natal, e saiu, sem saber para onde ir, a fim de seguir aonde Deus o levasse. [...]

“Não fora uma pequena prova aquela a que foi assim submetido Abraão, nem pequeno o sacrifício que dele se exigira. Havia fortes laços para prendê-lo ao seu país, seus parentes, seu lar. Ele, porém, não hesitou em obedecer ao chamado. Não teve perguntas a fazer concernentes à terra da promessa: se o solo era fértil, e o clima saudável, se o território oferecia um ambiente agradável, e proporcionaria oportunidades para se acumularem riquezas. Deus falara, e Seu servo devia obedecer; o lugar mais feliz da Terra para ele seria aquele em que Deus quisesse que ele se achasse.”1

“O Senhor em Sua providência trouxe essa prova a Abraão a fim de lhe ensinar lições de submissão, paciência e fé; lições que deveriam ser registradas para benefício de todos os que mais tarde fossem chamados a suportar a aflição. Deus dirige Seus filhos por um caminho que eles não conhecem; mas não Se esquece dos que nEle põem a confiança, nem os rejeita. [...] O Senhor permite que as provações assaltem Seus fiéis, a fim de que, pela sua constância e obediência eles possam por si mesmos enriquecer espiritualmente, e possa o seu exemplo ser uma fonte de força aos outros. ‘Eu que conheço os planos que tenho para vocês’, diz o Senhor, ‘planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano’ (Jr 29:11, NVI). As mesmas provações que da maneira mais severa provam a nossa fé, e fazem parecer que Deus nos abandonou, devem levar-nos para mais perto de Cristo, para que possamos depor todos os nossos fardos a Seus pés, e experimentar a paz que Ele, em troca, nos dará.”2

1. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 126.
2. Ibid., p. 129.


Pense nisto

1. Como minha fé em Deus pode me ajudar a encontrar “o lugar mais feliz na Terra” — o lugar em que Deus deseja que eu esteja?
2. A parte da história de Abraão com a qual mais me identifiquei neste momento foi [...] ?



Mãos à Bíblia
 
4. O que significa fé creditada (atribuída) para justiça? Gn 15:6; Rm 4:3-6, 8-11, 22-24

Essa é uma metáfora tirada do mundo dos negócios. Pode significar “colocar algo na conta de alguém”. De acordo com a metáfora de Paulo, o que é colocado em nossa conta é a justiça. Mas em que base Deus nos considera justos? Da mesma forma que considerou o patriarca Abraão. Não com base na obediência. As Escrituras dizem que Deus o justificou por causa de sua fé.


Sue WelchHemel Hempstead, Inglaterra




Quarta, 26 de outubro
cpb – Evidência

Fé! Fé! Fé!



Quando viajamos ao longo do Antigo Testamento, deparamo-nos com muitas pessoas que tinham a fé que teve Abraão: o tipo de fé que não se importa com a posição que uma pessoa ocupe na vida, não se importa pela situação que ela esteja passando; esta pessoa permanece fiel a Deus.

Pela fé, Moisés recusou ser chamado herdeiro de Faraó. Em vez disso, preferiu sofrer com Deus e Seu povo. Enoque andou com Deus pela fé até sua trasladação. Ele não buscou os confortos da vida, nem se esforçou em ganhar riqueza e felicidade para si. Considere ainda Manoá e sua esposa. Quando “o Anjo do Senhor” (Jz 13:3) disse à esposa de Manoá, mulher estéril, que ela teria um filho que libertaria Israel dos cananitas, tanto ela quanto seu esposo tiveram fé e o desejo de fazer o que era correto. Sobre a fé que teve Manoá lemos que “ele aceitou e creu plenamente na palavra do Anjo. Ele tomou como certo que, no devido tempo, a criança prometida lhes seria concedida. Sua fé está em agudo contraste com a do sacerdote Zacarias, o pai de João Batista, que pediu um sinal quando o anjo do Senhor apareceu a ele e prometeu-lhe um filho (Lc 1:8).”* Manoá e sua esposa mostraram sua fé confiando no “Anjo do Senhor” e obedecendo as instruções de Deus em relação ao seu filho.

Então, encontramos Jó, que sofreu como nenhuma outra pessoa. Em resposta a Bildade, um dos seus amigos que acreditavam que Jó estivesse sofrendo por causa de seus pecados, Jó replicou, “Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim Se levantará sobre a Terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus. Vê-Lo-ei por mim mesmo, os meus olhos O verão, e não outros; de saudade me desfalece o coração dentro de mim.” (Jó 19:25-27).

Quando consideramos a fé destas pessoas e de tantas outras no Antigo Testamento, consideremos também quão frequentemente estamos desejosos de abrir mão de nossas zonas de conforto para confiar em Deus.

*The SDA Bible Commentary, v. 2, 2ª ed., p. 384.


Mãos à Bíblia

5. Leia Gênesis 12:1-3. Qual era a natureza da aliança que Deus fez com Abraão?

A base da aliança de Deus com Abraão estava centralizada nas promessas de Deus a ele. Alguns erroneamente concluem que a Bíblia ensina duas formas de salvação. Afirmam que, no Antigo Testamento, a salvação era fundamentada na guarda dos mandamentos. Como isso não teria dado muito certo, Deus aboliu a lei e tornou possível a salvação pela fé. Nada poderia estar mais longe da verdade! Como Paulo escreveu em Gálatas 1:7, há apenas um evangelho.

6. Cite outros exemplos no Antigo Testamento de salvação unicamente pela fé. Lv 17:11; Sl 32:1-5; 2Sm 12:1-13; Zc 3:1-4


Nthenya MasikaNairóbi, Quênia




Quinta, 27 de outubro
cpb – Aplicação

A fé é uma necessidade básica



Quando Deus disse a Abraão que sacrificasse seu único herdeiro legítimo, Abraão não argumentou nem reclamou. Em vez disso, ele fez os preparativos para executar as instruções de Deus e então partiu para cumpri-las completamente. Mateus 17:20 diz que, se tivermos fé mesmo que seja tão pequena quanto uma semente de mostarda, seremos capazes de realizar coisas impossíveis. Certamente, com Deus ao nosso lado, podemos fazer qualquer coisa que Ele nos peça. Abaixo estão listadas quatro maneiras para adquirirmos tal fé.

Orar. Fazer isso nos fortalece para enfrentar as tentações e para cumprir as ordens de Deus em situações difíceis. Quando Daniel orou somente a Deus apesar do decreto de que todos em Babilônia deviam orar ao rei ou seriam lançados na cova dos leões, Deus o libertou. Como resultado, o rei expediu um decreto de que todos em seu reino deveriam temer e reverenciar o Deus de Daniel (Dn 6:26).

Parar de reclamar. Quando reclamamos dos nossos problemas, não nos focalizamos em Deus e em Seu poder. Então, em vez de lamentar pelas circunstâncias, olhemos para Ele em fé. Quando o fizermos, Deus nos dará forças e as respostas de que precisamos para prosseguir. Ele sabe o que precisamos e quando precisamos. Tudo o que você precisa fazer é pedir, e lhe será dado!

Não se desencorajar. Porque o diabo não fica feliz quando seu relacionamento com Deus é bom, ele tenta desencorajá-lo de ter um relacionamento próximo com o Senhor. Satanás o lembrará de quão terrível pecador você é e essas lembranças farão você se sentir desmerecedor do amor e justiça de Deus. Segure-se imediatamente nas promessas de Deus e tudo ficará bem.

Obedecer. A obediência é essencial. Quando Tiago escreveu sobre a fé que Abraão tinha, ele disse: “Você pode ver que tanto a fé como as obras [de Abraão] estavam atuando juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras” (Tg 2:22). Então, no verso 26, Tiago afirma que “a fé sem obras está morta”. A fé e a obediência andam juntas. Não podemos ter uma sem a outra.


Pense nisto

1. Pense em alguma ocasião em que você começou a perder a fé. O que causou isso e o que ajudou você a reconquistá-la?
2. O que mais você perderia se deixasse de ter fé em Deus? E o que você ganhará quando sua fé aumentar?



Mãos à Bíblia

7. Como Cristo nos libertou da maldição da lei? Gl 3:13; 2Co 5:21

O que Deus fez por nós em Cristo foi o ato de redimir, que significa “comprar de volta”. Jesus nos resgatou da maldição, tornando-Se nosso portador de pecados (1Co 6:20; 7:23).


Alex MutindaNairóbi, Quênia




Sexta, 28 de outubro
cpb – Opinião

Deus é fiel



Deus é fiel para pessoas como Abraão, Manoá e sua esposa, Jó e Daniel porque eles foram fiéis a Ele. E quando Ele é fiel para conosco, nada que Ele nos pede é impossível executarmos. Por exemplo, Manoá e sua esposa não tinham filhos. Mas por causa de sua fé na fidelidade de Deus, tiveram uma criança a quem Deus prometeu iria começar a libertar os israelitas dos filisteus. Juntos, como marido e mulher, mostraram sua fé obedecendo às condições que Deus lhes estabeleceu em relação a seu filho.

Hoje, também sabemos que Deus tem leis que deveríamos seguir se dizemos que temos fé nEle. Não podemos ser verdadeiramente fiéis se não decidimos em nosso coração obedecer a Deus. Suas promessas não são vazias. Mas elas jamais poderão ser cumpridas se nós não manifestarmos o tipo de fé que encontramos no Antigo Testamento.

Em Habacuque, capítulo 1, o profeta perguntou a Deus as duas seguintes questões: (1) Por quanto tempo Ele permitirá que o mal triunfe? (Hc 1:2, 3) e (2) por que Ele permanece em silêncio “enquanto os ímpios [Babilônia] devoram os que são mais justos [Judá] que eles”? (Hc 1:13).

Deus respondeu a Habacuque no capítulo 2 e a resposta é simplesmente que Habacuque precisava esperar no Senhor, pela fé (2:4), e que “o Senhor, porém, está em Seu santo templo; diante dEle fique em silêncio toda a Terra ” (Hb 2:20). Em outras palavras, “não ouse questionar a sabedoria de Deus em guiar o destino das nações como fez Habacuque (cap. 1:13; 2:1).”*

Com que frequência nos permitimos questionar a direção de Deus em nossa vida? Tal presunção é um sinal de que não temos uma fé vigilante, o tipo de fé mostrada por Abraão, recomendada por Paulo e pelo próprio Cristo como uma fé salvadora. Não sejamos prontos em questionar a sabedoria de Deus. Ao contrário, sejamos prontos para ter fé nEle, o tipo de fé que resulta em boas obras por Ele (Is 58; Mq 6:8).

*The SDA Bible Commentary, v. 4, 2ª ed., p. 1055.


Dicas

1. Leia Gênesis 22:1-18 três vezes. Na primeira vez pergunte-se o que você escuta (os pássaros, a surpresa na voz de Isaque, etc.). Na segunda, pergunte-se o que você vê (o olhar de Abraão, etc.). Na terceira vez, pergunte-se o que você sente (amedrontado, chocado, etc.). Como cada uma das leituras aumentou seu conhecimento e o desejo pela fé do Antigo Testamento?
2. Dramatize com seus amigos uma das histórias do Antigo Testamento apresentadas na lição desta semana. Faça arranjos para apresentá-la na Escola Sabatina dos adultos em sua igreja.
3. Cante “Castelo Forte” de Martinho Lutero (no 33 no Hinário Adventista do Sétimo Dia). Como a letra ajuda a compreender a fé do Antigo Testamento? Como a melodia ajuda a enfatizar este significado?
4. Medite nos Salmos 23 e 91. Como estas passagens ajudam a compreender a natureza da fé do Antigo Testamento?

MEDITAÇÃO

Feliz o homem constante no temor de Deus, mas o que endurece o coração cairá no mal. Prov. 28:14.

 
Para muitos, o sucesso é considerado parte da felicidade. Mas pode o sucesso ser medido? Analisemos este assunto do ponto de vista de dois empresários. Um se acha bem-sucedido porque pensava vender 100.000 dólares e vendeu 110.000 em produtos. O outro, no entanto, vendeu 500.000 mil e se acha fracassado, porque queria alcançar um milhão. O que é sucesso para você? É possível defini-lo de alguma maneira? Se as coisas não saíram como queria, você é uma pessoa infeliz?

Se você sair pela rua procurando uma definição de sucesso, provavelmente conseguirá opiniões diferentes. É difícil definir e alcançá-lo?

O provérbio de hoje diz: “Feliz o homem constante no temor de Deus.” A característica do homem feliz, segundo o texto de hoje, não é necessariamente sucesso, mas constância. A intermitência destrói a vida. Você já percebeu que a intermitência é um sintoma de uma lâmpada que está chegando ao fim? O ser humano é intermitente por natureza. Um dia, está bem, e no outro sente-se mal. Um dia, acorda cheio de otimismo e vontade de conquistar o mundo. E, no dia seguinte, as nuvens negras do pessimismo parecem envolvê-lo por completo. Assim são as coisas nesta vida, mutáveis, inconstantes e passageiras.

Com Deus tudo é diferente, porque Ele é eterno. Por isso, o conselho do salmista é: seja constante no temor de Deus. “Temer a Deus”, no contexto bíblico, é tê-Lo sempre presente, não se esquecer dEle, ter consciência de que Deus está ao seu lado. É claro que se Deus é permanente e eterno, a pessoa que O busca todos os dias será constante. Seu caminho será um permanente crescimento. E até os dissabores, tristezas e dificuldades da vida serão instrumentos que o ajudarão nesse processo constante de ir em frente.

Como estão as coisas hoje com você? O sol brilha com toda a sua intensidade? Há nuvens escuras que o amedrontam? Precisa de forças para continuar a luta que iniciou? Procure Jesus antes de partir para as atividades do dia. Seu Deus é eterno. É a rocha dos séculos. Não muda, permanece sempre. Parta para as atividades com Ele e terá um dia feliz, porque “feliz o homem constante no temor de Deus”.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

COMENTARIOS DA LIÇAO

Lição 4 – Justificação pela fé


Pr. Matheus Cardoso
Editor-assistente dos livros do Espírito de Profecia
na Casa Publicadora Brasileira

Quando Pedro agiu de forma contrária ao que ele mesmo acreditava (2:11-13), Paulo o repreendeu e o fez recordar-se de sua crença como cristão (v. 14). Em Gálatas 2:15-21, Paulo apresenta as razões que justificam sua dura resposta.

Resumo da semana: Paulo relembrou a Pedro que a justificação é somente pela fé. Ou seja, somos perdoados de nossos pecados, aceitos por Deus e passamos a fazer parte de Seu povo somente pela fé no sacrifício de Cristo, e não por nossa obediência (que é imperfeita) à lei de Deus. Nossa obediência à lei será o resultado da justificação pela fé já obtida.

O que é justificação pela fé?
Em sua resposta a Pedro, Paulo disse que “ninguém é justificado pela prática da lei, mas mediante a fé em Jesus Cristo” (Gl 2:16).1

Certa vez, numa reunião da igreja, uma garotinha perguntou a Ellen G. White: “A senhora vai falar nesta tarde?” “Não, nesta tarde, não”, ela respondeu. A menina falou: “Que pena! Então, por favor, peça ao pastor que use palavras fáceis. Diga-lhe que nós não entendemos palavras compridas, como ‘justificação’ e ‘santificação’. Não sabemos o que essas palavras querem dizer.”2

Assim como aquela garota, muitos não entendem o que esses conceitos significam. Atualmente, “justificação” é uma expressão teológica rebuscada, desconhecida para a maioria das pessoas.

“Justificação” é uma palavra relacionada ao tribunal. Significa ser absolvido, declarado justo, considerado inocente diante de acusações. Ser justificado é o oposto de ser condenado (Êx 23:7; Dt 25:1; Mt 12:37).

No contexto bíblico, justificação tem um sentido específico. Todas as pessoas são pecadoras (Rm 3:23). Tudo o que merecem é o salário do pecado, a morte eterna (Rm 6:23; Ef 2:3). Todos são culpados perante a lei de Deus (Rm 3:19; Gl 3:10). No tribunal divino, a sentença de cada ser humano é: “Culpado!”

No entanto, quando cremos em Jesus, somos perdoados de nossos pecados, somos aceitos por Deus e passamos a fazer parte de Seu povo. Isto é, somos justificados. Justificação é o mesmo que ser perdoado dos pecados (At 13:38, 39; Rm 4:6-8) e ser libertado da condenação da lei (Rm 8:1, 2). O resultado disso – como Paulo tanto enfatizou – é a obediência a toda a lei de Deus, que inclui o sábado (Rm 3:31; 8:4; 13:8-10; Gl 5:14; 6:2).

De que lei Paulo está falando?
Paulo diz que “o homem não é justificado por obras da lei” (Gl 2:16, ARA). Algumas pessoas acham que isso se refere apenas às leis cerimoniais. Mas, em Gálatas, “lei” é “toda a coleção dos mandamentos de Deus dada ao Seu povo através de Moisés”, “sejam morais ou cerimoniais” (Lição de Adultos, segunda-feira). Portanto, os Dez Mandamentos estão incluídos.

“Obras da lei” (ARA) são as obras ou atos que a lei requer de nós.3 Em outras palavras, a obediência aos mandamentos da lei, a “prática da lei” (NVI).

Conforme já vimos, o objetivo de Gálatas não é mencionar quais mandamentos do Antigo Testamento não precisam ser obedecidos pelos cristãos. O problema é muito maior do que tentar alcançar a justificação por meio da circuncisão ou de outras leis cerimoniais. É impossível ser justificado pela obediência a qualquer parte da lei – mesmo aos Dez Mandamentos!

O que não é legalismo?
É verdade que o legalismo era um dos maiores problemas dos judeus em geral do tempo de Jesus e dos apóstolos (Rm 9:30–10:4).4
Mas precisamos ser cuidadosos a fim de evitar uma compreensão distorcida a respeito do que é legalismo.

1. Legalismo não é necessariamente obedecer à lei de modo rigoroso – É impossível ser obediente “demais”. De acordo com Jesus, Seus seguidores não devem ter um padrão de obediência inferior ao dos zelosos fariseus, e sim “muito superior” ao deles (Mt 5:19, 20). A lei deveria ser obedecida externamente de modo tão rigoroso quanto os fariseus ensinavam (Mt 23:3), mas, acima disso, Deus pede a obediência interior, vinda do coração transformado por Ele (Dt 6:5-9; 10:16; 30:6).

Portanto, quem obedece aos mandamentos de forma apenas exterior e mecânica, esquecendo-se da transformação interior, não está guardando a lei de forma nenhuma! (Gl 4:21; 6:13; Tg 2:10). Os legalistas, em vez de se apegarem demais à lei, em realidade se afastam do verdadeiro sentido dela.

Como veremos neste trimestre, Paulo ensinava que o sacrifício de Cristo tornou a obediência à lei ainda mais profunda e significativa. Cristo morreu precisamente para que pudéssemos guardar a lei de acordo com a vontade de Deus (Rm 8:3, 4). Depois da cruz, Deus enviou o Espírito Santo em Sua plenitude, para escrever Sua lei em nosso coração (Hb 8:10; 10:16; cf. Gl 3:14; 5:14, 18).

2. Legalismo não necessariamente é guardar uma “infinidade” de pequenos mandamentos dados por Deus – O Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) apresenta 613 preceitos, e obviamente o propósito de Deus era que cada um deles fosse obedecido “à risca” (Sl 119:4, ARA). Alguns estudiosos afirmam que o Novo Testamento contém ainda mais regulamentos que o Antigo. E os escritos de Ellen G. White, por sua vez, apresentam um número adicional de orientações dadas por Deus. Então, o problema não está no elevado número de mandamentos, nem em quão detalhados eles são. Deus deu cada norma para que realmente fosse obedecida.

Paulo nunca falou contra qualquer dos mandamentos dados por Deus. Em vez disso, ele costumava citar mandamentos específicos da lei, mostrando que a ela continua a ser um guia para a vida (Rm 13:9; 1Co 10:14, 20, 21; Ef 6:1, 2). O próprio Paulo apresentava listas de normas para o comportamento cristão (Rm 12–13; Gl 5–6; Ef 5–6; Cl 3). Portanto, o apóstolo nunca viu nenhum problema na existência de “regras”.

3. Legalismo não consiste necessariamente em seguir normas da tradição judaica – Os judeus da época de Jesus enfrentavam a mesma dificuldade que nós: a Bíblia não apresenta instruções específicas para todas as situações da vida. Muitas mudanças haviam ocorrido na sociedade desde que Deus havia dado Seus mandamentos a Moisés, 1.500 anos antes. Por isso, o objetivo das tradições dos judeus era ampliar os mandamentos do Antigo Testamento a situações concretas de sua própria época. Em vez de ser uma “tradição morta”, o objetivo da tradição judaica era tornar os ensinos bíblicos relevantes para outros tempos.

Por causa dessas regras, muitos dizem que os judeus, principalmente os fariseus, eram legalistas. É verdade que muitas dessas regras eram exageradas e desnecessárias, mas não era primariamente por isso que os judeus em geral eram legalistas. Jesus Se opôs a várias tradições, não por serem legalistas em si mesmas, e sim porque invalidavam os próprios mandamentos bíblicos (Mt 15:3-6).

A prática de ampliar os mandamentos bíblicos não se limita aos judeus. Alguns cristãos escolhem, voluntariamente, seguir um estilo de vida mais rígido que o apresentado na Bíblia (cf. Mt 19:11, 12; Rm 14:5; 1Co 7:7-9; 10:28, 29), e não existe nenhum problema nisso. Alguns adventistas, por exemplo, decidem escutar apenas música sacra tradicional ou não usar leite e ovos em sua alimentação. Essas pessoas não são necessariamente legalistas. Por uma questão de personalidade, sempre haverá alguns cristãos “mais rigorosos” e outros “mais flexíveis” em questões que não estão explícitas na Bíblia e/ou que não envolvem princípios bíblicos. Mas o primeiro grupo não é necessariamente mais legalista, nem o segundo, menos consagrado.

4. O legalismo judaico não era necessariamente a obediência às leis cerimoniais – É certo que, depois da morte de Cristo, não mais precisamos guardar as leis relacionadas ao templo (Dn 9:27; Hb 10:1-4). Mas o problema do legalismo não era primariamente esse. Até mesmo Paulo, que falou tanto contra as “obras da lei” como meio de justificação, viveu até a morte como judeu. Portanto, observava as festas judaicas, frequentava o templo e circuncidou seu assistente judeu Timóteo (At 16:3; 20:16; 21:17-26; 25:8; 28:17). Os demais cristãos judeus seguiam as mesmas práticas (At 2:46; 3:1; 21:20).

Em Gálatas (e no restante de suas cartas), o apóstolo não condena os rituais do templo em si nem qualquer outro aspecto das leis cerimoniais. Essa não era a preocupação dele. A circuncisão era somente a “ponta do iceberg”, porque o problema real era muito mais profundo. Por isso, na maior parte de Gálatas, Paulo nem sequer menciona a circuncisão, mas trata da lei como um todo (o que inclui os Dez Mandamentos). O principal erro dos oponentes de Paulo era apresentar a obediência à lei (moral e/ou cerimonial) como meio de justificação, em vez de ensinarem que a guarda dos Dez Mandamentos é a consequência da justificação pela fé.

Então, o que é legalismo?
Paulo jamais falou contra a obediência a qualquer parte da lei de Deus (o que inclui o sábado). O problema não era esse. Mas, se a obediência não é em si mesma sinônimo de legalismo, então o que é legalismo?

O legalismo judaico – Os judeus em geral acreditavam que o ser humano tem a capacidade de guardar a lei perfeitamente. Portanto, por meio da obediência, uma pessoa pode ser aceita diante de Deus e passar a fazer parte de Seu povo (Rm 2:17; 9:31, 32; 10:2, 3). 
Na teologia judaica, o conceito de justificação estava ligado ao conceito de recompensa. Muitos usavam uma balança para representar o juízo de Deus. Uma pessoa justificada (absolvida) no juízo era aquela cuja obediência (ou boas obras) pesava mais que suas transgressões (cf. Lc 18:10-14). A misericórdia de Deus apenas adicionava mérito àqueles que a pessoa já possuía.

O legalismo cristão – O legalismo mantido por muitos dos primeiros cristãos não era igual ao defendido pelos judeus em geral. Os cristãos legalistas acreditavam na graça de Deus e no sacrifício de Cristo. O problema é que ensinavam que a obediência à lei (inclusive aos Dez Mandamentos) seria necessária para a justificação (At 15:1, 5; 21:21). Eles não negavam o fato de que somos salvos pelo sacrifício de Cristo, mas a cruz só podia salvar aqueles que se tornassem parte do povo da aliança através da obediência a toda a lei.

Para aqueles cristãos judeus, o sacrifício de Jesus somente acrescentaria peso ao prato da obediência na balança do juízo. Essas pessoas acreditavam que “a fé não era suficiente por si só; ela devia ser complementada com a obediência, como se a obediência acrescentasse algo ao ato da justificação” (Lição de Adultos, terça-feira). Portanto, a justificação era uma mescla entre a graça de Deus e a obediência à lei. Isso é o que Paulo tinha em mente quando disse que “o homem não é justificado por obras da lei” (Gl 2:16, ARA) ou “pela prática da lei” (NVI).

Aplicações práticas
O legalismo é mais profundo do que a maioria imagina – Para muitos, ser legalista é ter um comportamento rigoroso demais, deixando de fazer um elevado número de coisas. Com isso, as pessoas “mais equilibradas” se tranquilizam com o pensamento de que estão muito distantes do legalismo, já que dão tanta atenção a normas e regras.

Ao falarmos anteriormente sobre o que não é legalismo, não estamos defendendo uma compreensão extremista sobre o comportamento. É verdade que não podemos considerar todas as normas divinas em pé de igualdade (cf. Mt 23:23). A guarda dos Dez Mandamentos, por exemplo, é uma exigência para que alguém seja batizado. Mas não podemos fazer o mesmo com o ideal divino do vegetarianismo, por mais importante que seja essa orientação. Também precisamos cuidar para não confundir costumes culturais (corretos ou não) com a vontade de Deus.

Mas, no comentário desta semana, tentamos mostrar que legalismo é algo muito mais sutil e, portanto, muito mais grave. É mais do que seguir uma “infinidade” de orientações dadas por Deus ou mesmo seguir normas que não estão explícitas na Palavra de Deus.

Legalismo não é tanto o número de normas que seguimos, nem quão rigorosamente vivemos, mas nossa atitude diante das orientações de Deus, qual função acreditamos que Sua lei desempenha em nossa vida. Legalismo não é tanto seguir mandamentos não bíblicos, mas seguir mandamentos bíblicos por motivos errados. Legalismo não é uma questão externa, mas interna.

Por essa razão, mesmo um adventista que se considere “mais equilibrado” pode ser legalista. Talvez ele considere legalistas aqueles que tentam seguir um elevado número de normas, não consomem determinados alimentos nem frequentam certos lugares. E, em muitos casos, esse indivíduo está correto em sua avaliação. Porém, é possível que esse “mais equilibrado” acredite que a obediência aos “requisitos mínimos” da vontade de Deus contribua para sua salvação. Se for assim, ele será tão legalista quanto o mais fanático extremista. Portanto, ninguém está isento do legalismo.

De qualquer modo, como o legalismo tem mais que ver com nossa atitude diante das recomendações de Deus, deveríamos pensar duas (ou mais) vezes antes de julgar os outros, de considerá-los legalistas, apenas por suas ações (cf. Mt 7:1, 2). Em vez de aplicar as orientações de Gálatas (como o restante da Bíblia) a outras pessoas, precisamos aplicá-las a nós mesmos.

1. Os textos bíblicos são extraídos da Nova Versão Internacional, salvo outra indicação.
2. Veja Ellen G. White, Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes, p. 254.
3. Veja T[homas] R. Schreiner, “Obras da lei”, em Dicionário de Paulo e Suas Cartas, ed. Gerald F. Hawthorne, Ralph P. Martin e Daniel G. Reid (São Paulo: Vida Nova / Paulus / Loyola, 2008), p. 883-887.
4. As seções “O que não é legalismo?” e “Então, o que é legalismo?” se baseiam em aulas do Dr. Wilson Paroschi, professor de Teologia no Unasp, campus Engenheiro Coelho.

MEDITAÇAO PARA SEXTA 21/10

"Do Senhor é a salvação, e sobre o Teu povo, a Tua bênção." Sal. 3:8.


Deviam ser duas horas da madrugada quando o guia passou despertando o grupo. Era o grande dia. Eu havia me preparado durante várias semanas para aquele momento. Jovem ainda, acalentara em meu coração o sonho de um dia escalar o monte Sinai. Agora era o momento de tornar o meu sonho realidade.


No início, tudo ia bem. Os camelos subiam em ziguezague, fazendo o caminho mais longo, e eu escalava, em linha reta, obtendo bastante vantagem sobre o grupo. Algum tempo depois, comecei a sentir os estragos do cansaço. Olhava para cima, e via cada vez mais distante a silhueta do monte recortada contra a lua esplendorosa daquela madrugada. Enquanto isso, os camelos iam me deixando para trás, um a um, transportando o grupo.


Minha situação era deprimente. Contudo, recusava-me a pedir ajuda. Quase sem forças, teimava na minha escalada solitária. O que podia fazer? Tinha que chegar ao topo da montanha; afinal, eu era o líder espiritual do grupo. Lutei. Esforcei-me. Tentei chegar sozinho, mas não consegui. Sem forças, exausto e até envergonhado, aceitei humildemente ser carregado por um camelo.


Contemplar o amanhecer do Sinai foi uma das experiências mais fascinantes da minha vida. Fora naquela montanha que Deus escrevera os eternos princípios de Sua lei. Ao longo da minha vida eu tentara, muitas vezes, como naquela madrugada, viver sozinho à altura desses elevados princípios. Quanto mais tentava, tanto mais longe do ideal me via. Até que um dia, derrotado, exausto e impotente, entendi que só poderia alcançar o ideal almejado com a ajuda do Cristo maravilhoso de todos os tempos. Precisava deixar-me levar por Ele. Sem Ele, não há cristianismo. Sem Ele, não há vida, nem justiça, nem santidade.


O esforço humano, a disciplina própria, o autocontrole são areia movediça, enganosa e traiçoeira. "do Senhor é a salvação, e sobre o Teu povo, a Tua bênção".


Alejandro Bullón



A reunião inicial foi ao pé do monte Horebe. Havia muito movimento naquela madrugada fria de janeiro. Os beduínos ofereciam o aluguel de um camelo por dez dólares. "Para quê?", pensei comigo mesmo, "estou preparado para chegar ao topo da montanha, sem ajuda." Porém, a realidade era outra. Uma hora mais tarde, dolorosamente, descobri a minha incapacidade.